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Entrevista com Christal Burnette, especialista em saúde e alimentação para a longevidade, em que nos traz verdades para além do veiculado nas mídias.

É com grande entusiasmo que compartilho com vocês o trabalho que venho desenvolvendo na promoção da longevidade ativa e saudável em todo o mundo. Ao longo dos anos, tenho dedicado minha carreira à realização de palestras, consultoria e à redação de artigos jornalísticos, com o objetivo de inspirar e orientar as pessoas a viverem vidas longas e gratificantes.

Uma parte fundamental dessa jornada tem sido minha exploração das chamadas Blue Zones, regiões do mundo conhecidas por abrigar populações com vidas centenárias ativas e felizes. Como parte da minha Expedição Centenarian, tive a oportunidade de visitar diversas dessas regiões, incluindo a Sardenha, na Itália, e Ikaria, na Grécia. Neste mês, fevereiro de 2024, embarquei em uma jornada por Okinawa, a Blue Zone localizada no Japão.

Durante minha estadia em Okinawa, percorri a ilha de norte a sul, explorando suas paisagens deslumbrantes e seus vilarejos pitorescos, que abrigam a maior concentração de pessoas centenárias do país. Tive o privilégio de conhecer de perto a cultura única e os hábitos de vida saudáveis que contribuem para a longevidade desses habitantes.

Além disso, tive a honra de entrevistar duas figuras proeminentes no campo da pesquisa sobre longevidade em Okinawa: o médico cardiologista e geriatra, pioneiro na investigação do envelhecimento, Doutor Makoto Suzuki, fundador do Okinawa Research Center for Longevity Science – ORCLS, e a renomada pesquisadora e especialista em saúde alimentação, Christal Burnette, diretora no ORCLS. As contribuições e conhecimentos de ambos enriqueceram significativamente minha compreensão sobre os fatores que contribuem para a longevidade e a saúde em Okinawa.

Por meio de minhas experiências e descobertas, tenho compartilhado achados valiosos sobre como podemos incorporar os princípios das Blue Zones em nossas próprias vidas, promovendo a saúde física, mental e emocional em todas as idades. Acredito que, assim, possa inspirar pessoas de todas as gerações e comunidades a adotarem hábitos de vida mais saudáveis e sustentáveis, visando uma longevidade plena e significativa.

Neste artigo, apresento a entrevista que realizei com Christal Burnette, que, gentilmente, recebeu-me na sede da ORCLS, na cidade de Urasoe, na ilha de Okinawa.

LIÇÕES DA BLUE ZONE OKINAWA: O TRABALHO DE CHRISTAL BURNETTE

Imagem: Christal Burnette

Christal Burnette – sua trajetória e realizações em Okinawa

Christal Burnette deu seus primeiros passos na jornada em direção à saúde e longevidade quando veio pela primeira vez a Okinawa em 2016 para ingressar na Universidade de Ryukyus como estudante de mestrado no departamento de agricultura. Especializando-se em plantas subtropicais, concentrou-se particularmente em uma planta incomum chamada chomeiso, também conhecida como “erva da vida longa”. Sua curiosidade sobre por que Okinawa era chamada de “ilha da longevidade” a levou a iniciar sua própria jornada de longevidade.

Fundou a Haitai Corporation para compartilhar suas descobertas com o mundo. Em sua busca para se tornar uma mestra da saúde de Okinawa, comprometeu-se a documentar tudo o que aprendesse e todas as pessoas que encontrasse ao longo do caminho. Sua fluência em inglês e japonês, além de um pouco do dialeto de Okinawa, permitiu-lhe estabelecer uma rede de contatos sólida e compreender profundamente a cultura local, o que facilitou a troca de conhecimentos com os habitantes da ilha.

 

Ao longo de sua carreira, conversou e ensinou milhares de pessoas ao redor do mundo, incluindo treinadores e proprietários de empresas, sobre como abandonar a mentalidade de pular de dieta em dieta e, em vez disso, implementar estratégias de longevidade para obter resultados duradouros de forma rápida e fácil.

Por meio de seu programa Okinawa Longevity Cookbook (TM), Christal ajuda seus clientes a criar seu próprio Plano de Vida de Longevidade e, em seguida, ensina-os a implementar mudanças duradouras e hábitos que beneficiam toda a família. Ela usou suas próprias receitas e hábitos para superar a depressão severa enquanto morava em Tóquio, no Japão, e transformar-se na mulher que sempre aspirou a ser.

Com base em sua paixão pela saúde e pelo bem-estar, Christal estabeleceu sua própria fábrica de produtos de saúde em Okinawa, bem como uma loja de bem-estar que oferece alimentos saudáveis locais. Sua loja oferece uma variedade de produtos, desde chás totalmente naturais até suplementos e bebidas, todos projetados para promover a saúde e o bem-estar de seus clientes.

Início da Carreira

Em nossa conversa, Christal pode revelar-me detalhes sobre a sua trajetória profissional na ilha de Okinawa, sobre as suas conexões e sobre o trabalho que faz na promoção da saúde e longevidade das pessoas por meio de sua respeitável organização lá instalada. Leia o teor resumido de nossa longa entrevista:

Silvia: Saudações, Christal. É um prazer conhecê-la e estar aqui consigo em Okinawa. Percebi que você veio para Okinawa em 2016 para estudar agricultura na University of Ryukyus. O que a motivou a vir para o Japão para realizar esses estudos e se tornar uma especialista em nutrição? É fascinante saber que você veio com o propósito de aprender mais sobre esta ilha conhecida pela longevidade e decidiu iniciar sua própria jornada de longevidade baseada no estilo de vida de Okinawa. Foi isso que a inspirou a fundar a Haitai Corporation?

Christal: Bem, em primeiro lugar, passei um ano estudando em Tóquio. Sou natural da Flórida, Estados Unidos. Como muitas pessoas sabem, a taxa de obesidade nos Estados Unidos é bastante alta. Então, quando cheguei ao Japão, fiquei impressionada com a magreza dos japoneses. Foi um choque para mim, já que nos Estados Unidos, os adultos, especialmente os mais velhos, tendem a ganhar peso à medida que envelhecem, e eu pensava que isso era normal. Ao vir para o Japão e testemunhar pessoas com pesos saudáveis, fiquei intrigada e quis entender melhor por que os japoneses são mais saudáveis que o resto do mundo. Foi então que ouvi falar de Okinawa como uma “ilha da longevidade” e decidi explorar mais. Concluí minha graduação na University of Florida e depois estudei na Universidade em Tóquio.

Em seguida, fiz meu mestrado na University of Ryukyu, aqui em Okinawa. Escolhi o departamento de agricultura porque não havia um departamento dedicado especificamente à longevidade, e a agricultura estava mais intimamente ligada ao que eu queria estudar.

Acreditava que o segredo da longevidade residia na alimentação, especialmente em plantas e vegetais. Durante meu mestrado, concentrei-me em uma erva de Okinawa chamada “erva da longa vida”, chomeiso, que é pouco estudada e conhecida. Decidi aprender a cultivá-la e estudar suas propriedades nutricionais. Enquanto fazia isso, aprendi sobre outras plantas e vegetais de Okinawa, assim como sobre conceitos como Moai e Ikigai.

Percebi uma lacuna na divulgação desses conceitos, tanto em inglês quanto em japonês, e decidi preenchê-la fundando a Haitai Corporation, com o objetivo de promover a longevidade de Okinawa e seus produtos para outros países.

Silvia: Exportar para mais países?

Christal: No momento, estamos focando apenas nos Estados Unidos, mas posso enviar produtos individualmente para qualquer parte do mundo. Estamos lançando um suplemento em breve, bem como um novo chá.

LIÇÕES DA BLUE ZONE OKINAWA: O TRABALHO DE CHRISTAL BURNETTE

Pesquisas e verdades surpreendentes acerca do documentário sobre as Blue Zones

Silvia: Sua história é inspiradora! É fascinante ver sua paixão por entender a cultura de Okinawa e suas descobertas. Em seu website, vi que você conduziu muitas entrevistas com residentes de Okinawa. Quais foram suas principais descobertas durante essas entrevistas para entender a dieta e o estilo de vida da região? As pessoas colaboraram compartilhando seus conhecimentos?

Christal: Sim, como falo japonês, foi um pouco mais fácil conseguir que as pessoas concordassem em conversar comigo. No entanto, ainda havia alguma resistência. Os okinawanos e os japoneses em geral tendem a ser mais reservados e alguns não estavam interessados em aparecer na mídia. Por isso, foi preciso orientar as conversas cuidadosamente para obter as informações desejadas. Houve momentos em que as entrevistas não fluíram como o esperado devido a essa resistência.

Silvia: Você compartilha suas descobertas sobre a longevidade e o estilo de vida de Okinawa em seu site e redes sociais, buscando educar o público sobre os princípios da dieta e seu impacto na saúde. O atual interesse pelo estilo de vida das Blue Zones tem ajudado a promover seu trabalho na Haitai Corporation? Quanto ao papel da alimentação como um dos segredos da longevidade em Okinawa, observei suas objeções à divulgação parcial do que foi dito pela especialista em dieta Fukie Miyaguni na série “Live to 100 – Secrets of the Blue Zones”, quando informam que o segredo da nutrição reside no consumo de Beni Imo, a batata doce roxa. Você poderia comentar sobre isso?

Christal: Eu uso a expressão “Blue Zones” porque muitas pessoas a reconhecem e buscam informações sobre elas. No entanto, quando faço referência às Blue Zones, busco ser fiel à verdade.

No documentário houve casos em que as entrevistas foram editadas de forma a distorcer o que foi dito pelos especialistas, como no caso da Fukie Miyaguni. Ela foi entrevistada no contexto da série, e suas respostas foram manipuladas para se adequarem a uma narrativa específica. Isso não reflete adequadamente a realidade. Como conheço-a pessoalmente, perguntei-lhe sobre como foi a entrevista. Contou que as imagens foram editadas para que a resposta dela fosse diferente. Ficou chateada.

Embora use a expressão “Blue Zones” para promover Okinawa, discordo da forma como algumas informações são apresentadas nessa narrativa. Por exemplo, no documentário, há uma ênfase indevida em uma dieta vegana, enquanto na realidade a dieta de Okinawa inclui uma variedade de alimentos, incluindo carne de porco. Portanto, é importante esclarecer essas distorções para o público. Eu explico tudo isto num vídeo em meu canal.1 (veja o link do vídeo no rodapé).

Silvia: Isso é realmente esclarecedor e preocupante, Christal! Agora, há uma tentativa de “vender” o conceito de Blue Zones para transformar comunidades de acordo com seus preceitos, e isso está envolvido em uma grande operação de marketing, especialmente após o documentário na Netflix. Foi interessante para mim observar durante minha estadia em Okinawa que todos os habitantes locais, de várias gerações, com os quais conversei, não tinham conhecimento das Blue Zones ou do fato de que Okinawa é uma delas. Parece que a certificação é desconhecida pelos próprios habitantes de Okinawa. Certamente, isso será um tema interessante para meus artigos futuros. Christal, sobre a Haitai Corporation, você poderia nos explicar o significado da palavra “Haitai”?

Christal: No dialeto original de Okinawa, os homens usam a saudação “Haisai” e as mulheres usam “Haitai” ao se cumprimentarem.

Idadismo em Okinawa

Silvia: Com certeza compartilharei sobre o trabalho da Haitai Corporation. Estou certa de que muitas pessoas ficarão interessadas em seus produtos. Gostaria também de saber sua visão sobre o preconceito relacionado à idade em Okinawa. Existem casos de idadismo em relação aos idosos?

Christal: Com base em minha pesquisa, notei que a celebração da vida longa costumava ser muito valorizada, como evidenciado pelas celebrações como o Kajimaya, onde as pessoas eram honradas por viverem até uma idade avançada.

Os idosos costumavam viver com seus filhos e havia um forte senso de respeito mútuo entre as gerações. No entanto, essa dinâmica tem mudado, com uma crescente tendência de separação entre as gerações e uma diminuição no respeito pelos idosos. Isso pode afetar negativamente o ikigai e o bem-estar dos idosos.

Além disso, o preconceito relacionado à idade também pode ser observado no ambiente de trabalho, onde os mais velhos muitas vezes são valorizados apenas por sua idade, em detrimento de suas habilidades. Essa situação pode gerar ressentimento entre as gerações mais jovens em relação aos mais velhos.

LIÇÕES DA BLUE ZONE OKINAWA: O TRABALHO DE CHRISTAL BURNETTE

Planos futuros de Christal Burnette

Silvia: Tudo isso é bastante revelador e preocupante, Christal! Para encerrar nossa entrevista, gostaria de agradecer pela oportunidade enriquecedora de conhecer mais sobre você e seu trabalho. Quais são seus planos futuros para a Haitai Corporation e você gostaria de deixar algumas palavras para os leitores no Brasil e em Portugal?

Christal: Meu objetivo é expandir meu canal no YouTube para alcançar um público global e educar as pessoas sobre a longevidade de Okinawa. Além disso, pretendo aumentar nossa produção e ajudar os agricultores e a economia local de Okinawa.

Quero resgatar e preservar a cultura tradicional de Okinawa em meio à modernização. Portanto, encorajo todos a não apenas seguir meu canal no YouTube, mas também a refletir sobre a importância das relações sociais e não se preocupar excessivamente com a comida ou o exercício, embora esses aspectos sejam importantes para a saúde.

Agradeço a todos pelo apoio e interesse em aprender mais sobre a longevidade de Okinawa.

LIÇÕES DA BLUE ZONE OKINAWA: O TRABALHO DE CHRISTAL BURNETTE

Conclusão

É com gratidão e entusiasmo que continuo minha missão de promover uma longevidade ativa e saudável em todo o mundo, compartilhando as lições valiosas aprendidas nas Blue Zones e em minhas experiências pessoais. Espero que juntos possamos construir um futuro mais saudável e vibrante para todos.

Nos próximos artigos, compartilharei minhas experiências e entrevistas a fim de que você possa conhecer mais sobre Okinawa e sobre o Japão, em continuidade ao meu compromisso de divulgar e fornecer conhecimento sobre as receitas de vida longeva das Blue Zones.

Muito obrigada!

Sobre Christal Brunette, veja também:

What the New Blue Zone Netflix Documentary Doesn’t Tell You (haitailife.com)

Longevity and Health – Haitai Life

CANAL NO YOUTUBE: https://www.youtube.com/@christal.haitai

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