Escolha uma Página

Inclusão digital, proteção de dados e participação governamental pautaram os debates do palco central no terceiro dia da Web Summit.

 

No terceiro dia da Web Summit, em Lisboa, O Poder da Colaboração, por meio desta correspondente, pôde apurar as principais preocupações de empresários, políticos e personalidades do mundo tecnológico, assim como suas opiniões sobre qual rumo a tecnologia deve tomar para que esteja, completamente, a bem de toda a sociedade.

“Se nós fizermos as coisas de uma maneira errada, a próxima geração pagará um preço caro.”

A Microsoft, uma das grandes empresas de tecnologia, ou big techs, como são chamadas, esteve representada por seu Presidente, Brad Smith, cuja palestra deixou

“O avanço tecnológico não pode deixar a sociedade para trás.” – Brad Smith, Presidente da Microsoft

Palavras sensatas, e um apelo ao trabalho conjunto da sociedade para que o futuro tecnológico seja seguro e proveitoso a todos, pautaram o discurso de Brad Smith, Presidente da Microsoft, no terceiro dia da Web Summit, em Lisboa.

“O mundo ocidental entrará em uma nova década, marcada pelo que pode ser a era da inteligência artificial. Antes da sociedade pensar no futuro, porém, é preciso fazer uma pausa para reflexão.”, disse Brad.

Especialmente marcante constatar que o presidente de uma das mais maiores empresas de tecnologia também entende ter toda invenção a potencialidade de uma arma. No caso, falava da inteligência artificial. “Quanto mais potente a ferramenta, mais potente a arma.”

Por isso, acredita que empresas de tecnologia devam trabalhar ao máximo para que o avanço tecnológico não se torne um risco para a sociedade. “Se nós fizermos as coisas de uma maneira errada, a próxima geração pagará um preço caro.”

Brad Smith afirmou ser essencial que empresas como a Microsoft se debrucem sobre princípios éticos em inteligência artificial. “São conversas que precisamos ter. É necessário dar um passo para trás. Isso não quer dizer que devemos deixar de avançar. Mas temos que fazer isso do jeito certo, sem esquecer das pessoas. “Nós precisamos dar prioridade às pessoas. O avanço tecnológico não pode deixar a sociedade para trás.”

A participação, rápida e atualizada, dos governos nos avanços em TI se faz essencial, na visão de Smith. “Governos devem acelerar essas conversas”, afirmou, e em uníssono a um grande número de palestrantes desta edição da Web Summit afirmou: “Precisamos de uma nova onda de proteção de privacidade.”

Diante de uma audiência atenta, o líder da Microsoft encerrou seu discurso destacando, com muita sensibilidade, a obrigação que a Inteligência Artificial deve assumir perante a sociedade por inteiro, sem exclusão de ninguém. “A Inteligência Artificial deve estar disponível à acessibilidade, para o planeta, para as ações humanitárias, para resolver grandes problemas. Se queremos que a tecnologia desempenhe papel responsável, todos temos que desempenhar este papel juntos. Este é o nosso desafio para a próxima década.” Concluiu Brad Smith sob grande aplauso.

Ninguém deixado para trás.

Tony Blair, Presidente do Tony Blair Institute, e Ro Kanna, da House of Representatives da California, mediado por Hadas Gold, da CNN, trataram de uma das consequências decorrentes do rápido crescimento tecnológico e da globalização: Pessoas tem sido deixadas para trás nestes processos de desenvolvimento.

Estes dois líderes, e especialistas no uso das políticas públicas para expansão dos benefícios da tecnologia, manifestaram suas preocupações e sugestões para que se assegure um mundo mais justo e equilibrado. E, sobre como nós podemos garantir que ninguém seja deixado para trás.

Tony Blair demonstrou preocupação quanto à postura dos políticos nesta que é a mais nova revolução depois da revolução industrial. “Os políticos demoraram para pegar a onda”, registrou. “Quero encurtar este caminho para essas pessoas.”

“Acha que as empresas estão pensando nessas pessoas deixadas para trás?, questionou Hadas Gold.

Ro Kanna, de imediato concordou, alegando: ”A tecnologia nos enriqueceu de vários modos, mas o Silicon Valley precisa ver os excluídos”, se referindo a lugares onde a tecnologia não é acessível. “Se não os integrarmos o pais se desintegrará.”

“Nenhum jovem deveria sair de sua cidade natal para arrumar emprego”, afirmou Kanna.

Por sua vez, Tony Blair afirmou a necessidade da intervenção governamental nesta questão, “O problema é que os políticos se sentem desconfortáveis para regulamentar questões tecnológicas”.

“Essas empresas de tecnologia estão mudando o mundo. Temos de entender que retroceder e regulamentar o poder dessas empresas. Há um risco que o debate se dirija apenas às big techs. Não é só isso.”, disse o ex-primeiro-ministro britânico, alertando quanto à necessidade de se posicionar perante a participação da China no cenário econômico e tecnológico.

“Será que nos desagregaremos da China ou teremos um convívio competitivo.”, questionou Tony Blair? “Uma coisa que será importante é América e Europa se unirem para a regulamentação da internet. Temos que estar à frente”

“O RGPD é um bom passo neste sentido”, perguntou o jornalista da CNN?

O RGPD (Regulamento Geral sobre a Proteção de Dados), é um regulamento do direito europeu sobre privacidade e proteção de dados pessoais, aplicável a todos os indivíduos na União Europeia e Espaço Econôico Europeu que foi criado em 2018. Regulamenta também a exportação de dados pessoais para fora da União Europeia e o Espaço Econômico Europeu.

Tony Blair atestou que europeus encontram-se na vanguarda, nesta questão de proteção de dados, fortalecendo a urgência na necessidade de criação de sistemas de regulamentação.

Para Ro Kannda, a conversa é mais que o RGPD, e sim o convencimento dos políticos de que a tecnologia, no futuro, será uma força para o bem.

“É preciso pagar 1.500 euros para estar aqui”. Assim o representante de Julian Assange criticou a Web Summit

Juan Branco, o advogado e conselheiro de Julian Assange (responsável pelo Wikileaks) se destacou pelos comentários árduos a Tony Blair, a Emmanuel Macron e à própria Web Summit.

“É preciso pagar 1.500 euros para estar aqui. Conseguimos entender o quanto isto é absurdo… Num país em que o salário médio é quase metade desse preço. E isso, claro, é provocado por esta ideologia de globalização”, disse Branco arrancando forte aplauso da plateia do Altice Arena.

Juan Branco veio a Lisboa, em nome do site Wikileaks, lembrar que Assange está preso e que muito teria a dizer na Web Summit, marcou presença no painel sobre a guerra nas trocas comerciais, sem deixar de clamar pela liberdade de Assange, dizendo que ele teria muito a dizer na Web Summit. “Não há razão para estar preso.”, disse Juan.

Para quem não se lembra, Assange usou o WikiLeaks para publicar embaraçosos arquivos militares e diplomáticos secretos dos EUA, em 2010, sobre as campanhas de bombardeio dos EUA no Afeganistão e no Iraque.

Hoje, Assange encontra-se preso na Grã-Bretanha e luta contra uma tentativa dos EUA de extraditá-lo por acusações apresentadas sob a Lei de Espionagem, que podem lhe render uma sentença de até 175 anos.

Ao lado de Michael Paul Pillsbury, diretor americano do Centro de Estratégia Chinesa, o Instituto Hudson, dos EUA, Branco também foi duro quanto à prática do Presidente da França em comercializar porcos com a China.

 

Sustentou que “este comércio vai pressionar mais os trabalhadores franceses. Vai arrebentar o planeta mandar carne de porco para a China.”

Por outro lado, Michael Paul Pillsbury afirmou: “Um dos maiores problemas é o roubo da propriedade intelectual pela China. E não o meio ambiente e o trabalho. “Os chineses estão roubando ideias de startups, jogos, à medida que são lançados, o que justifica o crescimento vertiginoso da sua economia. A China tem a sociedade mais desigual do mundo. Quando um líder da China disse que “enriquecer é glorioso”, todos os valores do comunismo foram abandonados.”

Estes foram apenas alguns dos inúmeros assuntos apresentados e debatidos neste que é o maior evento da nação portuguesa.

Em sua quarta edição, a Web Summit será realizada em Lisboa até o ano de 2028, para a alegria de empresários, cidadãos e governo.

Silvia Triboni – Correspondente de O Poder da Colaboração, e editora do Across Seven Seas

 

 

 

 

 

 

 

Share This