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Continuação da Análise do Relatório Goldman Sachs “The Path to 2075 – The Positive Story of Global Aging”

Se na Parte I exploramos a visão otimista da Goldman Sachs sobre o envelhecimento global e o surpreendente potencial da longevidade – onde, cientificamente, “70 é o novo 53” e a queda da fertilidade não é o apocalipse demográfico que muitos pintam –, resta-nos questionar: por que motivo, então, tantos continuam a enfrentar barreiras invisíveis que os impedem de viver e contribuir plenamente?

A resposta é clara e preocupante: o idadismo.

Este é o verdadeiro obstáculo que precisamos de desmascarar e combater para que a promessa de um futuro longevo e próspero se concretize.

Longevidade Ativa em Ação: O Redesenho da Vida Profissional e a Luta Contra o Idadismo no Trabalho

Um dos pilares do meu trabalho em Longevidade Ativa é a reavaliação da vida profissional.

O relatório da Goldman Sachs fornece dados irrefutáveis que apoiam a minha tese: a vida profissional efetiva média tem aumentado.

Segundo o Relatór, desde o ano 2000, em economias desenvolvidas, a vida profissional efetiva mediana aumentou 12%, passando de 34 para 38 anos, enquanto a esperança de vida aumentou 5%. Isto demonstra uma adaptação intrínseca das sociedades ao aumento da longevidade.

Esta extensão da vida profissional não é, a meu ver, uma imposição ou um resultado da necessidade econômica pura, mas uma evolução natural impulsionada pela melhoria da saúde e pela capacidade de continuar a contribuir.

O relatório observa que “há uma ligação mais forte entre as mudanças nas vidas profissionais efetivas e a esperança de vida entre os países do que entre as mudanças nas vidas profissionais efetivas e os aumentos na idade oficial de aposentadoria, reforma ou de pensão”. Isto sugere que as pessoas estão a trabalhar mais tempo porque podem e querem, e não apenas porque são obrigadas. É uma manifestação direta da Longevidade Ativa em ação.

No entanto, aqui reside uma das maiores fricções: o idadismo no local de trabalho. Como diretora da Associação StopIdadismo de Portugal, tenho testemunhado o impacto devastador dos estereótipos e preconceitos relacionados com a idade.

Apesar das evidências de que os trabalhadores mais velhos são tão produtivos, comprometidos e adaptáveis quanto os mais jovens – e muitas vezes trazem uma riqueza de experiência e sabedoria que é insubstituível – eles enfrentam discriminação na contratação, promoção, acesso a formação e até mesmo em situações de despedimento (RIAGE, 2025; People Managing People, 2025). Muitos relatos indicam que a discriminação etária no local de trabalho leva a menor potencial de ganhos, isolamento, solidão, depressão e ansiedade para os trabalhadores mais velhos (ASEonline, 2024).

Para mim, Longevidade Ativa também significa flexibilidade.

O mercado de trabalho deve adaptar-se para acomodar as necessidades e capacidades de uma força de trabalho multigeracional. Isto pode incluir horários de trabalho mais flexíveis, oportunidades de trabalho a tempo parcial, ou o incentivo à requalificação e à aprendizagem ao longo da vida. Ao fazê-lo, não só capacitamos os indivíduos a prolongar as suas carreiras de forma sustentável, mas também aproveitamos a riqueza de experiência e conhecimento que as gerações mais velhas trazem.

Combatemos o idadismo ao reconhecer e valorizar que a idade não é um impedimento, mas um atributo.

 

O INIMIGO SILENCIOSO: COMO O IDADISMO ROUBA A NOSSA LONGEVIDADE ATIVA E COMO VENCÊ-LO

The DM Total Employment Rate Has Risen (Implying A Lower Dependency Ratio), Despite a Large Decline in the Working Age Ratio. Data available on request.

Harmonia Intergeracional: Tecendo Pontes, Não Barreiras

Ao lado da Longevidade Ativa, o meu foco primordial tem sido a promoção da Harmonia Intergeracional. O envelhecimento populacional, se não for gerido com uma visão intergeracional, pode levar a tensões e divisões. Contudo, acredito firmemente que, quando as gerações são encorajadas a interagir, colaborar e aprender umas com as outras, o resultado é uma sociedade mais coesa e resiliente.

O relatório da Goldman Sachs, ao abordar a extensão da vida profissional, indiretamente reforça a importância da Harmonia Intergeracional.

Se pessoas de diferentes idades estarão ativas no mercado de trabalho por mais tempo, a colaboração entre elas torna-se não apenas desejável, mas essencial.

Em vez de uma competição por empregos, a Harmonia Intergeracional propõe uma sinergia onde a experiência e a sabedoria das gerações mais velhas podem ser combinadas com a inovação e a energia das gerações mais jovens. Pensemos em programas de mentoria reversa, onde os mais novos ensinam as últimas tendências tecnológicas aos mais velhos, e estes partilham a sua experiência profissional e de vida.

O relatório destaca que, “apesar do grande declínio nas taxas de idade ativa dos DMs que já ocorreu, as taxas de dependência dos DMs realmente caíram”. Esta é uma prova empírica de que o envelhecimento não é, por si só, um fardo insustentável.

Em termos mais simples: Apesar de haver menos pessoas em idade de trabalhar nas economias mais ricas, a proporção de pessoas que são consideradas “dependentes” (crianças e idosos que não estão no mercado de trabalho) em relação a quem está a trabalhar não aumentou como seria de esperar, mas sim diminuiu.

A minha visão da Harmonia Intergeracional baseia-se na ideia de que as gerações mais velhas não são apenas “consumidoras” de recursos, mas “contribuidoras” ativas para o bem-estar social e econômico. Isto pode manifestar-se no voluntariado, no empreendedorismo ou na partilha de conhecimentos e habilidades dentro das comunidades.

A Harmonia Intergeracional é a chave para transformar um possível “fardo” num recurso valioso, ao mesmo tempo que desmantela os mitos idadistas que segregam as gerações.

Desmistificando Mitos e Acelerando a Adaptação: O Papel Crucial da Consciencialização Antiiadismo

Um dos maiores mitos que o relatório e o meu trabalho procuram desmistificar é a inevitabilidade de um colapso dos sistemas de segurança social devido ao envelhecimento.

Embora o relatório reconheça que “o aumento dos custos das pensões do setor público continua a ser uma preocupação para algumas economias”, ele imediatamente contrapõe com a solução mais eficaz: “o meio mais eficaz de contrariar o impacto do envelhecimento nas taxas de dependência é estender a vida profissional”.

A adaptação ao envelhecimento não é apenas uma questão de números e políticas; é uma questão de mentalidade.

O idadismo é um dos maiores obstáculos a esta adaptação. Ele manifesta-se em atitudes, preconceitos e práticas discriminatórias que subestimam as capacidades dos mais velhos e os excluem da participação plena na sociedade. Como diretora da Associação StopIdadismo de Portugal, a minha missão é precisamente essa: educar, sensibilizar e advogar por uma mudança cultural que erradique estas barreiras.

O relatório da Goldman Sachs conclui que “as transições são muitas vezes difíceis de gerir, mas esta é uma transição que estamos atualmente a gerir bem”. Esta afirmação otimista valida o meu trabalho e a minha crença de que, com as estratégias certas, podemos não só navegar na transição demográfica, mas prosperar nela.

Para acelerar esta adaptação, é fundamental investir na educação ao longo da vida, tal como o relatório sugere: “o número médio de anos que as pessoas passam na educação também tem vindo a aumentar ao longo do tempo.

À medida que a esperança de vida aumenta, todas as fases da vida estão a prolongar-se, tornando lógico para os indivíduos tanto prolongar o seu tempo na força de trabalho como investir mais anos na educação”. Esta é uma estratégia de investimento a longo prazo nas pessoas, que lhes permite manterem-se relevantes e capacitadas num mundo em constante mudança.

O Papel Transformador da Tecnologia e da Inovação Social

No meu trabalho, vejo a tecnologia como um facilitador chave tanto para a Longevidade Ativa quanto para a Harmonia Intergeracional.

O relatório da Goldman Sachs aponta que “melhorias na produtividade impulsionadas pela tecnologia (em particular, aquelas impulsionadas pela IA) poderiam aumentar o PIB per capita, enquanto melhorias na robótica poderiam ser especialmente benéficas nos cuidados a pessoas idosas”.

Eu expandiria esta visão: a tecnologia não deve apenas ser uma ferramenta para otimizar os cuidados ou a produtividade, mas um meio para empoderar os mais velhos, permitindo-lhes manter a sua independência, saúde e participação social.

Para a Harmonia Intergeracional, a tecnologia tem o potencial de construir pontes sem precedentes.

As redes sociais, os jogos online e as plataformas de aprendizagem colaborativa podem tornar-se espaços onde as gerações interagem naturalmente, partilham interesses e constroem relacionamentos.

A tecnologia pode facilitar programas de mentoria virtual, onde a sabedoria dos seniores pode ser partilhada com jovens aspirantes, independentemente das barreiras geográficas.

Ao promover esta interação, a tecnologia ajuda a desmantelar os preconceitos, mostrando as capacidades e o valor de cada geração.

Olhando para 2075 e Além: Uma Sociedade que Atinge a Excelência com a Sua Idade

A visão que procuro construir, e que ecoa no otimismo do relatório Goldman Sachs, é a de uma sociedade que “se mostra excelente com a sua idade”.

Uma sociedade onde a Longevidade Ativa é um direito e uma oportunidade para todos, e onde a Harmonia Intergeracional é a força motriz para o progresso social e econômico. Isto exige um compromisso abrangente.

No plano das políticas públicas, precisamos de:

  • Reformas nos sistemas de pensões que incentivem a flexibilidade na idade de reforma e recompensem a contribuição contínua;
  • Investimentos em infraestruturas e serviços que apoiem o envelhecimento saudável e ativo, incluindo transporte acessível, moradias adaptadas e acesso a cuidados de saúde de qualidade.
  • Programas de inclusão digital e literacia tecnológica para todas as idades são vitais.

No plano empresarial, as organizações devem abraçar a diversidade etária como um imperativo estratégico, reconhecendo que equipas multigeracionais são mais inovadoras e resilientes. Isto implica políticas de recursos humanos que apoiem a aprendizagem contínua, o bem-estar dos funcionários de todas as idades e a flexibilidade no trabalho. É fundamental que as empresas combatam ativamente qualquer forma de discriminação etária, desde a contratação até à progressão de carreira.

Em nível individual e comunitário, a mudança de mentalidade é talvez a mais crucial. Precisamos de desafiar os estereótipos negativos sobre o envelhecimento e celebrar a riqueza da experiência e da sabedoria que as gerações mais velhas possuem. As famílias devem ser encorajadas a fomentar os laços intergeracionais, e as comunidades a criar espaços e atividades que promovam a interação entre todas as faixas etárias.

O relatório da Goldman Sachs, “The Path to 2075”, é mais do que uma análise económica; é um convite à ação.

É a validação de que o caminho para uma sociedade que envelhece com sucesso não é através da negação ou da lamentação, mas através da adaptação inteligente, da inovação e de um compromisso inabalável com a Longevidade Ativa e a Harmonia Intergeracional. Sinto-me profundamente honrada em contribuir para esta transição transformadora e otimista.

Espero seus comentários sobre o resultado do Global Economics Analyst: The Path to 2075 — The Positive Story of Global Aging

Link para a Parte ! da análise: https://www.linkedin.com/pulse/70-%C3%A9-o-novo-53-revolu%C3%A7%C3%A3o-silenciosa-da-longevidade-e-mito-triboni-ti6kc

Referências:

 

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